sábado, 3 de maio de 2014

A hipocrisia a favor da sustentabilidade

 Assim como as empresas, as pessoas também desejam, em sua maioria, demonstrar ações ou preocupações com o desenvolvimento social responsável da sociedade. Simplesmente porque é ético, bonito e politicamente correto. Uma das formas mais fáceis encontrada por muitos indivíduos de aderir ao movimento sustentável é a escolha pelo consumo de produtos e utilização das marcas que estejam vinculadas diretamente às práticas socioambientais. E uma pesquisa realizada por uma das maiores redes de agências de relações públicas do mundo, a Edelman Group, em 2010, afirmou-se que além dos 4 P’s básicos do marketing (preço, praça, promoção e produto), explora-se agora um quinto P: Propósito.
 A pesquisa – realizada com 7.259 pessoas em 13 países – indica que 8 em cada 10 consumidores esperam que as empresas doem uma porção de seus lucros para apoiar uma boa causa. 62% dos entrevistados estão dispostos a trocar uma marca que não apoia uma boa causa por outra que apoia. Para dar o exemplo correto, 37% das pessoas revelaram que estariam dispostas a deixar de comprar em empresas que não têm projetos sociais e também 37% faria questão de criticar essas empresas publicamente.
 Seriam esses os verdadeiros “consumidores verdes” – como são conhecidos os consumidores que têm suas decisões de compra diretamente influenciadas por questões socioambientais – ou seriam esses apenas mais uma fatia da sociedade que tende a hipocrisia como uma das principais ferramentas de discurso?
 Derivada do latim hypocrisis – que significa atuação, representação ou fingimento de virtudes, crenças, atitudes e sentimentos – a hipocrisia poderá desempenhar um papel importante na difusão das práticas de sustentabilidade para as gerações futuras. A prática não deverá ser encarada como algo correto, mas suas consequências podem render bons frutos para as gerações mais novas. Quando um adulto fala em alto e bom som, em uma reunião de amigos ou familiares, que achou importante uma ação social empreendida por uma empresa e que passará a comprar preferencialmente lá por conta disso, ele está passando uma imagem bastante positiva da situação para as crianças que por acaso estiverem escutando o discurso – por mais que os discursos jamais sejam colocados em prática.
 As diversas propagandas na TV, onde a empresa X afirma que as pessoas são mais importantes que o lucro, a empresa Y incentiva o uso correto dos recursos naturais, além da reciclagem, e a empresa Z promove ações gentis e a igualdade no tratamento entre as pessoas de todas as etnias e religiões transmitem vários ensinamentos que poderão ser copiados e praticados pelas crianças de hoje em um futuro breve. Para que esse modelo fosse de fato sustentável, bastaria que os próprios adultos começassem a escutar mais os próprios discursos e passassem a praticar mais aquilo que falam. Mas isso significaria ter que abandonar a própria hipocrisia, um dos hábitos mais antigos da humanidade.

(Rodrigo Tavares - Consultor da Dialogus e Bacharel em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Ceará.)

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