O Brasil possui grande extensão geográfica e cultural que revela uma pluralidade de povos, costumes e tradições, que pode ser revelada materialmente por meio dos hábitos alimentares construídos por grupos sociais a partir de elementos biológicos e, principalmente, sociais e culturais. O ato de comer está entre o que é natural e o que é social/cultural no homem, pois para sua sobrevivência é indispensável o alimento, que por sua vez, é utilizado e adaptado de acordo com os hábitos e costumes praticados em seu meio.
A culinária possui significados e simbolismos diversos nas diferentes formas de cultura. A comida, portanto, transcende seu significado para algo além do que satisfazer-se biologicamente. O aprendizado dos modos à mesa, os hábitos atribuídos ao ato de comer são socializados desde a infância e podem ser modificados parcial ou completamente ao se chegar à vida adulta.
A antropologia sempre se interessou pelo ato de comer, pois o comportamento relativo à comida demonstra manifestações culturais e sociais e causam estranhamento entre os diferentes povos. É um aspecto que permite uma observação abrangente e uma possível compreensão da alteridade.
Portanto, é possível pensar sobre uma possível identidade nacional a partir dos aspectos relacionados à gastronomia, uma vez que a identidade nacional é universal e engloba todos os grupos, o que torna a culinária brasileira uma miscelânea de memórias populares regionais e de processos migratórios, introduzindo na cozinha essas relações. Tornando aceitável a ideia de que o feijão e o arroz, a farinha de mandioca, a feijoada e a caipirinha se tornem alimentos reconhecidamente universais entre os brasileiros.
Dentro do Estado brasileiro, comidas como o vatapá e o acarajé são consideradas pertencentes à culinária regional do estado baiano, entretanto no exterior, fora do âmbito nacional, esses pratos tornam-se tipicamente ou legitimamente brasileiros, não importando a questão regional. O que está em jogo, nesse contexto, é a prelação que se tem com elementos que levam indivíduos a pensar de maneira mais ampla, no caso, o vatapá e o acarajé como elementos nacionais.
Desse modo, a cultura nacional busca unificar os indivíduos, independente de diferença de classe, gênero ou raça, ela busca a unificação em uma identidade cultural representada por uma grande família. Mas, essa concepção é imaginária, pois as nações modernas são compostas de maneira híbrida, sendo uma mistura de tradições, composta por diferentes costumes, sentimento de lugar, religião e até mesmo diferentes línguas. Nesse sentido, a globalização também contribui para a fragmentação do sujeito, pois ela como um processo que conecta diferentes regiões, que aproxima os espaços através das diversas tecnologias, que rompe barreiras de tempo, enfatiza a perda de sentido de unificação das identidades nacionais, as transformam, criando uma tensão entre a ideia de identidade local e identidade global.
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